domingo, 30 de setembro de 2007

Rizoma II (A linguagem lacunar)


Não está em questão - no enunciar - tão somente o emprego representacional calcado no fundamento fixo. Não se trata de aplicação de regras anteriormente dadas, silogismo sintático-semântico - dedução mecânica - de algo estrutural e previamente delimitado, certo, unívoco.
Enunciar é acima de tudo entrincheirar-se no não-lugar da língua, perfurar o espectro linguageiro e, no vazio, ser capaz de vencer o silêncio clínico.
Fazer um espaço de permanência no buraco aberto, pela própria escritura ou pela fala, no interior do murmúrio indizível e do oceano informe. O que não implica sujeição do informe à forma, domesticação do indizível ao bem dito.
Enunciar é lançar uma tênue teia de funâmbulo nos abismos da linguagem.
É tentar transpor esse abismo sabendo-se desde sempre nele arremessado.

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