segunda-feira, 12 de julho de 2010

Viscosidade e asco


Há uma viscosidade asquerosa entre os medíocres, algo que cheira mal, podre. A onda de gozo e satisfação patética (que, de fato, nada de pathos contém) dos seres medíocres das redondezas - os novos pequenos burgueses plenos, os escravos incônscios do novo poder fascista invisível do contemporâneo - se parece com um grande cocho onde qualquer porcaria colocada à disposição é deglutida de uma só vez. Os brinquedos eletrônicos, os sons fáceis e os motivos uniformes - essas papinhas tecnológicas de fácil absorção - são como o uníssono ponto final da história; são os apetrechos indispensáveis de entrada no reino divino para qualquer um destes seres medíocres. Os objetos que adornam os paramentos de todo e qualquer medíocre são as trompetas - ora minguantes - dos anjos decaídos de outrora. Ao contrário destas, que visavam cantar a glória de um (finado) deus altíssimo (falo sem tom elegíaco), as atuais sucatas tecnológicas só cantam uma coisa: o fedor de merda que exalam os seus portadores.
A fedentina se espalha, impregnando o globo e arrastando consigo os olhares clamorosos de todas as mariposas de asas gordurosas que se auto-intitulam humanos. (É o show da vida, dizem os mais idiotas.) Toda a parafernália tecnológica (técnica cujo controle e uso não é de competência de ninguém: qualquer pateta semovente é capaz de manipular e deglutir os altos produtos da tecnologia contemporânea) é utilizada como subterfúgio para anestesiar qualquer tipo de sensação, sentimento... que dirá pensamento. A vida passa aprisionada nestes dispositivos que conformam a praga humana e é nesta caixa que se produz a viscosidade. Uma remela asquerosa que gruda na pele de todos; e a mediocridade é cantada como numa festa: gozando em público (e em privado) a merda que exalam, os seres fétidos apodrecem a cada passo, a cada suspiro, a cada sinal vital.
De resto, um tapume de felicidade (!?) é colocado como veste de dia sacrificial, e muitos são os seus nomes: qualidade de vida, segurança, consumo sustentável, vida plena... os mais variados vômitos dessa civilização que assina seu atestado de insanidade com os louros dos sãos, cantando glórias à própria merda, ao próprio mal cheiro, à própria viscosidade que gruda em todos e faz deles a massa que queima aos poucos. Os medíocres caminham a passos largos para o fim sem perceber o movimento que fazem, anestesiados e inertes, cumprindo rigorosamente (diria religiosamente) os atos do mais alto culto contemporâneo: cantar o fedor, cantar a merda da existência com os requintes de um dandy.

imagem: Martin Parr, 1985.

Um comentário:

AbGrund disse...

patetas semoventes - boa definição para o "indivíduo" massa bovinamente encantado com o próprio vazio....