segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Sais de uma lágrima que se vai

O estupor de momentos solenes na solidão não é traço de impotência, de falta de vontade, de vontade de solidão. Não, não é nada disso e não compreendem nada os que isso insinuam a respeito de outros e de si mesmos.
E o piano não canta e não soa mais do que uma verdade insólita que me devassa neste momento de quietude e solidão.
Verdade insólita, insipiente, inconsequente. Que consequências tem uma vida? Que clamores por estes negros que vejo tão sofridos por aqui?
Lasciva, pérfida, a vida é inconsequente e a voz do homem o último canto de desespero num mar de mansidão que se exaure em cada gota de lágrima derramada.
No choro a verdade se esparrama por vento, sol, chuva e canto.
O brilho da fração de luz que se refrata na gota que cai, numa intermitência de segundos, faz o choro ser a expressão mais pura da existência humana.
Milênios de clamores não são mais que sussurros diante da verdade de uma lágrima... tão límpida, tão perfeita em seu movimento... movimento sempre de queda.
E o anjo caído chora a verdade eterna perdida, remoendo e rangendo os dentes.
Se não esperasse, se não olhasse a queda de baixo, riria e dançaria com o brilho da gota de lágrima que cai.
Ouvir o espatifar da gota salgada... só no convívio íntimo consigo mesmo.
Não restam sais, nem em seus mínimos cristais. O abandono se cumpre ao som triste desse piano que soa, só
para mim, só...

2 comentários:

Anônimo disse...

v.:
soa, só
para mim, só
v.

Jnf disse...

Lembro de Catão, citado por Cícero e por Arendt: "nunca um homem está mais ativo do que quando nada faz, nunca está menos só do que quando a sós consigo mesmo"; pensar (e poetar a sós) é fazer-se companhia e estar como em um "turbilhão de multidões que nos povoam" - valeu pelo compartilhamento poético destes dias aí em além-mar. Um grande abraço!