domingo, 15 de abril de 2012

Ílion


De Tróia restou somente um bardo cego e analfabeto
Encontrado por lacedemônios na costa de Cyprus
Tomado pela febre, pelos piolhos e pelo escorbuto

Tróia, narrou-lhes o andarilho, fora saqueada há seiscentos anos
Contou-lhes de virtudes, heroísmos, derrotas e deuses
Logo se descobriu que o mendigo estava mentindo
Queria apenas entretê-los para poder beber mais vinho

Mas isso de nada importa,
Uma mera estrofe de canto sobrevive a impérios milenares
Além de logo acalmar o sono e afastar o medo da morte

Era o único consolo diante do absurdo cósmico
e desta curta e pretensiosa vacuidade que é a vida humana


Imagem: Daido Moriyama.

Um comentário:

Anônimo disse...

Jon,
vou com WB: "A ordem do profano deve se edificar sobre a ideia de felicidade. (...) Pois na felicidade tudo o que é terrestre aspira por sua aniquilação, mas é somente na felicidade que essa aniquilação lhe é prometida. - Mesmo se é verdade que a intensidade messiânica imediata do coração, de cada indivíduo no seu ser interiro, adquire-se por meio da infelicidade, no sentido do sofrimento. Ao movimento espiritual da 'restitutio in integrum' que conduz à imortalidade, corresponde uma 'restitutio' secular que conduz à eternidade de uma aniquilação, e o ritmo dessa realidade secular eternamente evanescente, evanescente na sua totalidade, evanescente na sua totalidade espacial, mas também temporal, o ritmo dessa natureza messiânica é a felicidade. Pois messiânica é a natureza em nome de sua eterna e total evanescência.
Procurar por essa evanescência, mesmo para esses níveis do homem que são naturais, tal é a tarefa da política mundial, cujo método deve ser chamado niilismo."

Abraços!
V.