domingo, 7 de outubro de 2012

Em memória de Carlos Marighella



O sintoma evidente de que a casa-grande colonial ainda se mantém em pé no Brasil (e, talvez, de uma forma  mais cínica que no passado) está no rito litúrgico das eleições municipais nestes grotões e veredas perdidas do imenso território tupiniquim. Um exemplo pessoal: na cidade paranaense de onde escrevo, famílias de latifundiários revezam-se na gestão local desde que isso aqui era uma vila de parada para os tropeiros, na metade do séc. XIX.   

Acompanhando as apurações pelo rádio, só pude escutar os rumores do transe coletivo: os miseráveis das periferias - como não poderia deixar de ser, a cidade é pobre e violenta - votando em peso para o candidato majoritário: 20 e poucos anos, filho de deputado "vitalício" com portugais de soja no estado do Mato Grosso, varão da elite estúpida e espúria com olhos para Miami, etc. Como dizia o cientista político Tim Maia, o pobre, no Brasil, é de direita...   

Ainda não tivemos nossa revolução, a imensa maioria da senzala brasileira não ousou destronar estes patifes. E o que é pior: sustenta-os, pois naturalizou e despolitizou sua servidão diária. Como despertar estes milhões? Aqueles que não teriam nada a perder a não ser seu grilhões? Só uma revolução seria capaz de fazê-los acordar (elas são as madeleines proustianas da política), mas por aqui ela fracassou antes de florescer. Somos os filhos abortivos de uma revolução inexistente. Espectros condenados ao cotidiano de rebanho. Domesticado. 

Lembra-me um amigo amigo cronópio, citando "Lugares comunes": os princípios de 1789 ainda são insurgentes e incômodos para este nosso mundo. Neste país, todos os dias o cadáver de Carlos Mariguella é novamente enterrado.


Imagem: em  4 de novembro de 1969, surpreendido por uma emboscada na alameda Casa Branca, em São Paulo, Carlos Marighella foi assassinado pelos dos agentes do DOPS, comandados pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury. 

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