quarta-feira, 6 de abril de 2016

O coxinha-croissant


O coxinha que sonha em ser croissant vomita sua ira nas redes sociais ao lado da selfie no Arco do Triunfo. Ele acaba de visitar Paris e sente saudades das delícias do "velho mundo": a cidade do almanaque cerebral deste brasileiro não concebe leis antiterror, imigrantes afogados no mediterrâneo, acampamentos de refugiados, periferias pobres, sujas e violentas no coração da "civilização". O coxinha-croissant é um místico em busca de parques temáticos imaginários regados a cenários de blockbuster pseudo-cult, roupas cafonas, vinhos caríssimos ruins e muito fast-food gourmetizado. Bens culturais sob medida para otários colonizados. "Como é triste viver em um país subdesenvolvido, inculto e corrupto!", "que tragédia um ex-presidente metalúrgico", bradam os coxinhas-croissants, comendo "foi gras" com notas fiscais em nome de empresas e desviando muito em seus impostos de renda. O coxinha-croissant se sente humilhado por não poder mais vestir no estrangeiro a camisa da CBF (do morto-vivo José Maria Marin) depois dos 7 a 1 - culpa do PT! -, mas pode usar ressentidamente seu modelito na avenida Paulista, mesmo que seu gosto e formação possa às vezes destoar do coxinha-hotdog (que sonha viver em Miami e votar em Trump, apesar do senhor de cabelos pintados de loiro sonhar um dia ver os latinos enterrados em fossas comuns) ou do coxinha-coxinha modesto, cujo sonho é viver em Curitiba (a cidade de Beto Richa, a mais limpa e europeizada do Brasil). O coxinha-croissant é um devoto da religião de santos da PF, eles salvarão o Brasil, higienicamente! A PF, "única instituição que funciona no país", é a corporação que o coxinha-croissant tem intimidade quando renova seu passaporte ou precisa gentilmente pagar uma propina para poder entrar com mercadoria contrabandeada (a propósito, todos os coxinhas-croissants são brancos e fazem uso correto do vernáculo). A PF que conseguiu eficazmente combater o tráfico de armas, drogas e pessoas na fronteira brasileira. O bom-mocismo da PF que limpará a lama do atoleiro chamado Brasil. A PF que nos faz sonhar com Paris e com os voos da Air France. A PF e suas botas. O coxinha-croissant é um ordeiro adorador de botas. Um pacífico e refinado lambedor de botas. Un parfait lécheur. 

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